Filhos de Viriato
Estou a tentar introduzir a possibilidade de comentários aos meus posts via o sistema do blogger, mas por alguma razão não está a funcionar. Bolas, isto de evoluir de um monologo para um diálogo está a ser mais complicado do que eu estava à espera.
Átila
Esquerda, direita?!
Um dos meus problemas ideológicos é que nenhum partido se aproxima minimamente das minhas opiniões políticas. Não existe sequer espaço para compromisso porque tal implicaria uma simples implosão de parte das minhas opiniões.
Moralmente e até certo ponto socialmente sou o que se pode descrever como um homem de
esquerda. Acredito de um modo obsessivo na igualdade, no direito de qualquer ser humano encontrar o melhor meio de ser feliz (desde que isto não limite ou afecte a liberdade ou felicidade do próximo). Sou a favor da discriminação positiva porque apesar de injusta, é um investimento que a sociedade deve fazer para o futuro. Sou a favor do casamento homossexual porque não entendo porque duas pessoas que se amam não podem ver a sua relação reconhecida pelo estado. Sou a favor do aborto até às 12 primeiras semanas porque me parece um bom compromisso entre os direitos do feto e os direitos da mãe.
No entanto a desresponsabilização individual que a esquerda cultiva irrita-me profundamente. O conceito de um estado providência que trata as pessoas como atrasados mentais parece-me uma aberração. Responsabilidade social não significa desresponsabilização individual! O anti-americanismo primário de parte da esquerda também me irrita. E´um anti-americanismo cretino, que distorce a realidade a tal ponto que deixa de ver o obvio. É também um anti-americanismo fácil que simplifica a complexidade da situação política mundial, pois tudo, ou quase tudo passa pelo tal imperialismo económico e militar americano. E aquilo que não passa pelo tal imperialismo é selectivamente ignorado ou menosprezado.
Se calhar devia fazer um partido, alguém que ser juntar ao pessoal? Não posso ser único...
Átila
Devido a
isto questiono-me...
Onde estão os manifestantes, as organizações de estudantes, os movimentos da sociedade civil, porque será que não existem vigílias em frente de embaixadas, qualquer embaixada.
O desinteresse geral mostra a hipocrisia de quem se acha defensor dos pobres e oprimidos...
Adamastor
Sem título!
Por vezes aqueles que deveriam saber não sabem, ou não querem saber. E são os pais, aqueles que realmente se interessam pela saúde dos seus filhos que têm de encontrar as soluções para literalmente os salvar. O triste da questão, e´que os pais que eu conheço são inteligentes, cultos e souberam encontrar essa solução. Mas existem muitos pais espalhados por este país, com mais limitações, menos informados, que colocam a vida dos seus filhos nas mãos de que não tem puto de ideia do que está a fazer. Mais triste ainda e´o facto destes ignorantes serem frequentemente os ditos especialistas, que pouco sabem, ou pior ainda, que pouca vontade têm de aprender. Arrogâncias que matam...
Mas felizmente a historia dos pais que conheço teve um final feliz...
Átila
Posso não concordar com todos os detalhes deste post, mas parece-me relativamente equilibrado
Barreira de Segurança III (O Outro Lado do Muro)
Parlamento
A grande surpresa acerca do debate que rodeou a ascensão de Santana ao poder foi que no meio de berros e histerias colectivas, à esquerda e à direita ninguém disse que o problema central desta crise é a fraqueza institucional do nosso parlamento. Reduzido a uma simples câmara de ressonância das estruturas partidárias, reduzido a simples instrumento do executivo, o parlamento encheu-se de figuras cinzentas, amorfas, que se tornaram deputados simplesmente devido à sua capacidade de ascensão política dentro de um conjunto de estruturas partidárias não democráticas. A necessidade de reforma do nosso sistema eleitoral é óbvia, e se alguém defende que o sistema proporcional deve necessariamente ser mantido, ao menos devemos garantir que os deputados sejam obrigados a eleições primárias no processo de selecção dos candidatos de cada partido.
Átila
Francamente!!!!
Eu francamente não entendo este pessoal do contra, sempre a dizer mal, sempre a criticar. Ora o nosso grande ministro da defesa defende a possibilidade da nomeação de Teresa Caeiro para a Defesa realçando como razão principal o facto de o seu avô ser almirante. Mas a sua mudança para as “Artes e espectáculos” mostra acima de tudo coerência, uma vez que a sua avó era corista no parque Mayer. Vocês não percebem nada!
Adamastor
Por alguma razão a crise política das últimas semanas devia ter tido o terceiro concerto para piano de Serge Rachmaninoff como banda sonora. Sem duvida que lhe iria dar uma necessária dimensão melodramática. Recomendo uma gravação ao vivo de Martha Argetich (1982).
Atila
Tinha acabado de descobrir o mundo...
Tinha acabado de descobrir o mundo. Observava-o através daquela janela; via prédios, arvores, figuras humanas, e distante no horizonte via sem o saber os seus futuros monstros Adamastores. Mas aquele dia tinha sido diferente, passou-o a ouvir o ar condicionado. O barulho melodicamente repetitivo do compressor era agora metodicamente analisado e cada som anatomicamente dissecado.
- Pai, de onde e’ que vem o ar fresco do ar condicionado?
- Boa pergunta. Tu se calhar não sabes, mas este ar condicionado esta ligado ao Pólo Norte por uma rede de tubos e canalizações. O ar fresco e’ então bombeado por varias ventoinhas para nossa casa. E’ por isso que faz este barulho –
Estupefacto, o filho passou o dia a tentar ouvir o rugido dos Ursos polares.
Atila (previamente publicado neste blog)
Santana!!!
Na última semana, falou-se em nome do bem colectivo, do bom funcionamento do nosso sistema político, mas tudo não passou de uma enorme hipocrisia.
A esquerda esta' contra a decisão do Presidente da República porque queriam um governo PS. A direita, pelo contrário, usou qualquer tipo de argumento para justificar a sua continuação no poder. A lógica e’ simples, obvia, e no fundo verdadeiramente democrática.
Surpreendente e' a reacção que Santana Lopes tem suscitado na esquerda. Uma reacção fortemente emocional, de natureza inquisitória. Na ausência de um verdadeiro auto-de-fé, os esquerdistas mais moderados usam caricaturas, abusos, anedotas, para sublimar as suas frustrações.
A escolha de Santana Lopes para primeiro-ministro, e a escolha inevitável de um secretário-geral do PS mais demagógico, vai necessariamente levar a uma radicalização nunca antes vista em Portugal, e ao desaparecimento da política argumentativa.
Acabamos de entrar na política pós-Big Brother, pós-Big Show Sic, pós-Casa Pia...
Atila
Um excelente post do adufe:
Sampaio:
Sim, a decisão foi política mas se bem entendo o presidente que temos não foi exclusivamente conjuntural. Não foram as pessoas, os líderes em questão que a determinaram. A palavra de honra, o compromisso, a responsabilização do sistema de democracia representativa e das consequentes legislaturas deverão ter sido os valores finais em que Sampaio apostou. Apostou. O futuro nos dirá se os tomadores desse legado são merecedores de tal aposta. Modestamente, já aqui deixei perceber que poucos políticos me mereceriam menos esse benefício da dúvida que Pedro Santana Lopes e Paulo Portas, mas não sou Presidente de República nenhuma.
[...]
Sampaio não traiu ninguém. Não fez nenhum ataque pessoal a ninguém.
Nesta história entre traidores e traídos restam-nos José Manuel Durão Barroso na qualidade dos primeiros e o eleitorado português do PSD na qualidade dos segundos.
Sampaio julga-se perante a sua consciência como o presidente de todos os portugueses, interpretando esse compromisso de uma forma bastante mais literal que Mário Soares, por exemplo.
Querem-se líderes capazes do magistério quando as funções o exigem e outros capazes de acatar respeitosamente as decisões legítimas de órgãos de soberania.
[...]
Em caso de dúvida num fora-de-jogo beneficia-se o "meu partido” acreditavam os líderes socialistas. Daqui os maus fígados, as promessas de ódio eterno, a quebra de amizades de décadas, as piadolas de Ana Gomes chamando-lhe um presidente de direita. É muito triste ver esta injustiça ser verbalizada - ainda que a quente - por membros do secretariado do PS, secretário-geral incluído.
Fui injusto, no post anterior devia ter dito "
Paulo Portas para comunistas", e não "
CDS-PP para comunistas".
Atila
A diferença entre uma esquerda a serio:
“[...] a solução constitucional que se impunha era a dissolução da Assembleia da República e a convocação de eleições antecipadas"
Carlos Carvalhas
E uma esquerda da treta, tipo CDS-PP para comunistas, e’ evidente:
"O medo venceu a esperança [e o país] perdeu a democracia"
Francisco Louçã
Atila
Igualdade de oportunidades
Hoje estava a preencher um formulário relacionado com um emprego em Inglaterra quando fui confrontado com a seguinte questão na secção de igualdade de oportunidades:
"Do you regard yourself as in any way disabled?"
Atlas
Caminhava como um Atlas a carregar um mundo invisível, arrastava-se pelo passeio de um modo quase que operático. A multidão regra geral ignorava-o, com o ocasional transeunte momentaneamente surpreendido com a sua corcunda. Homem de meia-idade, barba mal feita, mas aparentemente feliz. Perguntei-lhe porque sorria com aquela corcunda. Disse-me que carregava os problemas do mundo, e que graças a esta artimanha, se tinha visto livre de uma existência miserável.
– Sabe caro amigo, os problemas dos outros são mais fáceis de suportar.
– E a sua corcunda?
– Olhe que o mundo tem mesmo muitos problemas.
Não pude deixar de dar uma gargalhada e não resisti uma provocação.
- O seu espírito messiânico e’ de louvar.
- Engana-se! Engana-se! Nunca deixe de desconfiar sobre quais são as verdadeiras intenções de um optimista megalomaníaco.
Atila
Luzes da Ribalta
O
Letteri Cafe tem uma fotografia fantástica de um filme fabuloso chamado
Luzes da Ribalta.
A historia de uma aura que teimosamente brilha no meio do nevoeiro da velhice.
Atila
Bush conversa sobre politica internacional com eventuais doadores para a sua campanha presidencial.
Antecipadas? (parte 4)
A ideia de que eleições antecipadas são necessariamente a melhor opção para qualquer tipo de crise politica e’ enganadora. Se a sobrevivência de qualquer governo fosse necessariamente depender da sua popularidade iríamos ser governados por sondagens, e o resultado seria um conjunto de politicas populistas que pouco ou nada resolviam o problemas do pais. Antes pelo contrário, tal democracia estaria condenada a degenerar mais cedo ou mais tarde numa simples ditadura da maioria.
Atila
Antecipadas? (parte 3)
Se a decisão de dissolver ou não o parlamento e’ estritamente politica (e portanto subjectiva) então tal decisão compete exclusivamente ao presidente da república. Ser presidente não e’ só cortar fitinhas e dar medalhas aos jogadores da selecção nacional. Também tem responsabilidades, e agora compete ao presidente decidir qual e’ na sua opinião a melhor opção para o pais. Jorge Sampaio tem a legitimidade de quem foi eleito para tomar este tipo de decisões, e qualquer que ela seja vou necessariamente respeita-la.
Atila
Antecipadas? (parte 2)
A possível falta de legitimidade democrática na ausência de eleições e' sem dúvida um problema real. Caso o parlamento não seja dissolvido, o novo primeiro-ministro vai estar relativamente fragilizado. No entanto tal como Ferro Rodrigues pediu coerência ao PSD por posições passadas, então relembro a posição do PS quando o primeiro governo minoritário de Cavaco Silva caiu com a moção de censura do PRD.
Outros tempos, outras vontades, mas a situação e’ obvia: cada partido, ‘a esquerda e ‘a direito adaptam os seus princípios inevitavelmente aos seus interesses.
Atila
Antecipadas? (parte 1)
Antes de mais defino a minha opinião: sou contra a dissolução do parlamento. Mas sou contra por razões estritamente económicas. Considero que e’ importante a continuação de uma politica económica de controlo da inflação e do défice publico. No entanto confesso que não gosto de Santana, e muito menos do Paulo Portas. A direita populista regra geral assusta-me. Abusam de uma moralidade caquéctica de um pais que felizmente já não existe, brincam com a xenofobia como uma criança brinca com o fogo. Mas neste momento creio que e’ fundamental o desenvolvimento de um programa económico serio, e a actual liderança do PS não me inspira qualquer tipo de confiança neste sector. Claro que se Vítor Constâncio fosse o secretário-geral do PS a conversa ja' seria outra.
Atila
Euro 2004 - parte 4
E pronto, acabou-se!
O pessoal volta ao trabalho de olhos postos no Agosto, Portugal lentamente acorda para a situação política nacional. Acabou-se o tão necessário carnaval, e o pais está prestes a mergulhar nas férias de verão, nos incêndios, nos acidentes da via-do-Infante. Temos que retomar aquilo que nunca deixou de ser, mas gostava de acreditar que o vamos fazer com mais optimismo. Pois o insulto e o negativismo fácil não levam a lado nenhum...
Atila
Euro 2004- parte 3
E agora, que o Scolari finalmente ganhou a legitimidade desportiva necessária para revolucionar a nossa selecção, estou desejoso de ver o que vai acontecer para o mundial. Temos uma nova “geração de platina”!!!
Atila
Euro 2004 - parte 2
Terminado Euro 2004, fico com uma sensação de orgulho em ser Português!
Não porque chegamos a uma final, não porque alguns dos nossos jogadores ocasionalmente justificaram o título de desporto-rei ao futebol, não porque a mulher do nosso presidente foi absolutamente "patriótica" durante a final (onde e' que será que ela comprou aquele top?!).
Estou orgulhoso porque o nosso pequeno pais, 'a beira-mar plantado, tradicionalmente fadista, incapaz de fazer coisa alguma a horas, organizou um campeonato absolutamente impecável. E mesmo depois da derrota, soubemos manter aquele desportivismo necessário de quem compreende que afinal tudo não passou de um jogo de futebol.
Atila
Euro 2004: parte 1
Eu não cheguei ao fim.
Dobrei o Cabo, mas havia em mim
Um herói sem remate.
Quando os loiros da fama me sorriam,
Aceitei o debate
Do meu destino predestinado
Com singelos destinos que teriam
Um futuro apagado,
Fosse qual fosse a glória prometida.
E sempre que uma nau entrenta o mar e o teme,
E regressa vencida,
Sou eu que venho ao leme
Com a Índia perdida
Bartolomeu Dias - Miguel Torga