Nem uma viva alma ‘a vista. Andei em busca de um murmúrio, mas o vento e’ traiçoeiro. Comecei a correr, sempre em frente, ate’ que de repente me cruzei com um velhote sentado num banco de jardim.
- Ora viva! Olhe que correr com este calor não e’ lá muito saudável.
- Mas o senhor sabe onde e’ que toda a gente se encontra?
- Pois, já me debrucei sobre este assunto, e conclui que estava a sonhar, que isto tudo não passa de um sonho.
- Um sonho?
- Sim um sonho, mas agora que o vejo já não sei se o sonho e’ seu ou meu. Eu, talvez por arrogância, achei que era a minha pessoa que andava por ai a sonhar ao desbarato. Mas agora por uma questão de principio, assumo que sou eu que sonho. Mas como deduzo que você pense o mesmo, então veja lá a confusão em que nos encontramos.
- Podemos estar louco! Alucinamos em torno de uma realidade inexistente.
- Pois, e’ um facto. Mas eu prefiro a ideia de estar a sonhar. Sempre me encarei como uma pessoa respeitável, com alguma autoridade intelectual.
- Ora aqui desengana-se o senhor. A loucura não e’ necessariamente vazia de respeitabilidade. Diga-me onde se encontra a fronteira entre a genialidade e a loucura?
- Olhe a arrogância caro amigo. Pois eu estou farto de intelectuais – Olhou-me com uma certa desconfiança, e depois continuou num tom mais amigável – Confesso que e’ capaz de ter razão, mas discutir tal coisa parece-me um exercício vazio de conteúdo. Alucinamos? Sonhamos? Irrelevante! No fundo e’ tudo uma questão de pura vaidade intelectual.