Texto dedicado a
100nada
Nova Iorque e’ uma cidade cheia de surpresas, onde podemos encontrar o espectro completo da raça humana. Deste a pessoa mais interessante e generosa, até a pessoa mais desprezível e odiosa. Faz mais de um ano, andava eu a deambular pela west village, quando fui abordado por um velhote que me perguntou se eu queria um café. Parecia um velhote respeitável, tinha piada, sorria de orelha a orelha, e contrariando todos os ensinamentos da minha mãe segui-o escadas abaixo em direcção ‘a cave. Foi obviamente uma estupidez, mas ao entrar na sala percebi que se tratava de um sinagoga e que o velhote simpático era um Rabi. Informaram-me que tinham acabado de terminar a refeição do Sabbath e como era da tradição, estavam agora a convidar estranhos com quem queriam compartilhar a comida. A sala tinha no máximo 7 ou 8 pessoas, de idade avançada, que me perguntaram de onde eu era, o que estava a fazer em Nova Iorque, se era judeu. Um deles estava a tocar violoncelo no fundo da sala, pouco disse, até que de repente me pediu uma sugestão, uma ideia sobre o que deveria tocar. Hesitei, mas após uma insistência, lá atirei um pedido para o ar. Respondeu com um ligeiro sorriso de aprovação. Meteram conversa comigo, eu meti conversa com eles, quase todos oriundos dos países de leste, organizavam concertos de jazz ‘as quintas-feiras, alguns tinham passado por Lisboa ou conheciam Portugal. Foram atenciosos e quando decidi que era tempo de partir, convidaram-me para o seu próximo concerto de jazz. “E’ no primeiro andar” - disse o Rabi - ”mas toca a campaínha com insistência porque por vezes não a ouvimos”-. Disse adeus, que ia aparecer no proximo concerto, mas nunca mais voltei.
E deste modo se constroem as memórias de uma pessoa...
Attila