Tentar narrar um evento histórico através da história pessoal de familiares e’ necessariamente uma aproximação cheia de perigos. Tenta-se explicar o todo a partir da parte, fazem-se generalizações e insinuam-se conclusões a partir de um número restrito de factos. No entanto, com os devidos cuidados, tal aproximação tem o potencial de dar uma incomparável dimensão humana aos indivíduos envolvidos. A história ao humanizar-se, ganha cor e alma, ganha a paixão e o desespero daqueles que a fizeram. Um bom exemplo e’ o documentário “Sob céus estranhos” de Daniel Blaufuks. Este documentário conta a história de milhares de judeus que durante a segunda guerra mundial usaram Lisboa como porto de saída da Europa. O esqueleto narrativo do documentário baseia-se na história da família do realizador, que iniciou o mesmo exílio mas que acabou por se instalar em Lisboa. Fala-se com paixão das memórias colectivas de uma família, mostram-se fotografias e vídeos, narram-se pequenos eventos, e no entanto consciente da miopia conceptual deste projecto o realizador consegue com uma enorme sensibilidade intercalar este material com outros registos históricos. Transformando-o num verdadeiro registo de uma época, capaz de dar um visão de conjunto sem no entanto perder a empatia emocional criada quando a história possui nomes e faces.