O acontecimento mais significativo do meu dia foi a caminho de casa. Numa autoestrada à hora mais perigosa de todas: a de semi-ponta, isto é, aquela em que todos os carros vão quase colados uns aos outros (deixar um espaço é escusado, porque é imediatamente preenchido por outro da faixa do lado) a 100 -110 km/h. Vou na faixa do meio e à minha frente vai um automóvel de marca alemã que aqui não refiro (mas tem o travão de mão no pé o que sempre achei contra natura), cinzento metalizado. Começa a abrandar e abre a janela. Lá de dentro sai um braço que se agita no ar. Percebo então que os gestos são dirigidos ao carro da faixa da direita. O estranho é que é um carro absolutamente igual. E da janela desse carro sai outro braço. Por momentos penso, são colegas no mesmo board of directors, mas os gestos têm muitos dedos...o que não quer dizer nada, mas esse sentimento à dita mesa implica mais facas espetadas nas costas que dedos espetados na estrada...e depois de um pequeno intervalo de mãos e dedos a abanar, um deles arranca a 150 pelo menos, o que é um feito difícil dado que o transito compacto vai a uma velocidade mais baixa. Mas o outro não se deixa ficar atrás e persegue o primeiro por entre os carros, faixa a faixa. E ali estou eu no lugar melhor da plateia a ver um filme americano ao vivo e a pensar, era muito bem feita que lá mais à frente acontecesse sucata topo de gama. Eu sei, não são sentimentos bonitos...mas uma pessoa não se pode impedir de os ter.
(mas o que me irrita verdadeiramente é ter ficado sem saber o fim da história...)
100nada