Cunha:
Sempre disposto a fazer filosofia de ponta, aqui vou eu noutra pega de caras. E’ costume dizer que “saudade” e’ uma palavra portuguesa de tradução impossível. Se e’ verdade que a nostalgia compulsiva e’ uma característica omnipresente na psique nacional, eu creio que existe outra palavra cuja tradução e’ ainda mais complicada. Refiro-me obviamente ‘a palavra “cunha”. Todos nos falamos em “cunhas”, boa parte provavelmente já fizeram ou já usufruíram de uma “cunha”, um pequeno favor, um piscar de olhos que torna a nossa vida em Portugal mais agradável.
Agora a questão e’ onde termina uma “cunha” e começa a corrupção, o trafico de influencias, as “tangentes” (para citar um amigo que falava da corrupção em Itália). Apesar de serem aparentadas, eu creio que mesmo assim existe algo de intrinsecamente único ao conceito “cunha”. E não me refiro ao facto de geralmente envolver uma senhora simpática de meia-idade, atrás do balcão de uma repartição publica.
Difool este fim-de-semana defendeu que uma “cunha” geralmente não se traduz numa falsificação de um documento activa ou passivamente, uma “cunha” e’ mais um jeitinho que faz com esse documento passe “milagrosamente” do fundo da pilha para o seu topo. Resumido apesar desta distinção ainda não me ser clara, creio que talvez “cunha” seja simplesmente corrupção adaptada a um pais de brandos costumes.
Attila