Abriu os braços como Jesus na cruz...
Abriu os braços como Jesus na cruz, deu meia-volta e apontou-os para o Cristo-Rei. Mediu-o com os dedos, e após umas hesitações afirmou peremptoriamente que tinha exactamente dois centímetros. Massajou satisfeito a sua barba de três dias, coçou o seu longo cabelo, e confirmou novamente a sua medição. Gabou-se que era uma medição absolutamente nanométrica, que tinha sido patrocinada por um subsidio da União Europeia, e estava de acordo com o protocolo ISO9000. O seu olhar começou então a deslizar pelo horizonte, fez mais umas tantas medições de gabarito internacional patrocinadas por um outro subsidio da União Europeia, e acabou por se fixar naquele lugar ao lado do horizonte chamado Trafaria. Queixou-se de um qualquer atentado paisagístico, e antes de tentar medir o tamanho de um tal lesa pátria, declarou solenemente que se devia reinstituir a pena de morte para arquitectos. Colocou os óculos escuros e olhou para o Sol, pensou em o medir mas conclui que os óculos iam afectar a precisão do seu trabalho. Pelo que por uma questão de integridade profissional afirmou que não podia fazer tal medição. Virou-se então de repente e disse:
– Entendes? Entendes o que te estou a dizer? Isto e’ como tudo nada vida, um problema que hoje parece ser de um tamanho monumental, amanhã ou dentro de um ano e’ deste tamanho – e olhou para os seus dedos que agora estavam em frente do meu nariz.
-Dois centímetros? – perguntei-lhe sorridente
-Não, no máximo um centímetro e meio - satisfeito com a sua resposta, deu mais uma pirueta de braços abertos tipo avião de combate e começou a correr em direcção ao mar, mas sem não antes gritar.
– O ultimo paga uma cerveja.
Attila